Lição 10: 2 Coríntios 10: Autoridade Apostólica e Disciplina

Lição 10: 2 Coríntios 10: Autoridade Apostólica e Disciplina

Ao lermos as severas palavras de Paulo contra os judaizantes, costumamos pensar que deveria ser um homem de gênio forte. Parece que realmente tinha temperamento assim, a julgar pelas “ameaças e morte” que respirava contra os discípulos antes da sua conversão (At 9.1). Mas ele morria “dia após dia”. Pela própria experiência, Paulo pode nos assegurar de que o fruto do espírito é (entre outras coisas) benignidade e domínio próprio, e que “E os que são de Cristo crucificaram a carne, com as suas paixões e concupiscências” (Gl 5.22-24). No seu apelo aos coríntios “pela mansidão e benignidade de Cristo”, Paulo revela que prefere lidar com o problema deles no amor de Cristo. Parece que os seus opositores interpretavam isso como sinal de fraqueza por parte dele (2 Co 10.10). E os coríntios julgavam pelas aparências, em vez de reconhecerem os verdadeiros motivos de Paulo na sua mansidão. Ele desejava usar sua divina autoridade para edificar a igreja; não para destruí-la pelas disputas e pela severidade (10.7-10). Mas se os coríntios preferissem uma “vara de castigo”, ele seria capaz de usá-la! (1 Co 4.18-21).

Em 2 Coríntios 10.4,5, vemos que nesse conflito Paulo usava armas “espirituais”. Aqueles que vivem segundo a natureza pecaminosa, usando armas carnais e mundanas, opõem-se ao conhecimento de Deus (10.5). Pensamos de imediato nos ateus que afirmam não haver Deus e nos agnósticos que negam a possibilidade de conhecermos a Deus; mas vemos que também os judaizantes se opunham ao conhecimento de Deus, revelado na pregação de Paulo.

O poder necessário para vencer as armas carnais (perseguição, calúnia, discórdia etc.) não vem do soldado que empunha as armas espirituais. Há poder de Deus nas armas se o crente as usa conforme a orientação do Espírito Santo.

Livro: Comentário Bíblico: 1 e 2 Coríntios (Thomas Reginald Hoover, CPAD,1999, pp. 201-202).

 

Texto Áureo
“Aquele, porém, que se gloria, glorie-se no Senhor.” 2Co 10.17

 

Verdade Prática
Devemos ser humildes e conciliadores nas nossas atitudes, mas firmes e irredutíveis na defesa do Evangelho.

 

Leitura Bíblica Com Todos: 2Coríntios 10.1-18

 

INTRODUÇÃO

  1. AUTORIDADE COM SABEDORIA 1-6
    1. Mansidão e firmeza 1-2
    2. Armas espirituais 3-5
    3. Legitimada pela obediência da maioria 6 
  2. AUTORIDADE E DISCIPLINA 7-14
    1. A verdadeira autoridade 7-8
    2. Coerência entre o falar e o proceder 9-11
    3. Sem buscar glória pessoal 12-14 
  1. AUTORIDADE COM HUMILDADE E ÉTICA 15-18
    1. O crescimento da igreja 15
    2. A ética missionária 16
    3. Glorie-se no Senhor 17-18 

APLICAÇÃO PESSOAL

 

Hinos da Harpa: 225 – 77

 

INTRODUÇÃO

Nesta lição veremos o apóstolo propondo que os coríntios examinem os fatos: os frutos da sua pregação, o crescimento da igreja e a sinceridade das suas atitudes. Ele faz clara distinção entre a sua autoridade ministerial e os falsos atributos humanos daqueles que o acusam de ser desqualificado.

  1. AUTORIDADE COM SABEDORIA (10.1-6)

A partir do capítulo 10 temos uma brusca mudança de tom no texto paulino. Assumindo postura mais combativa, o apóstolo é irônico em vários momentos a fim de desacreditar os caluniadores. Ele chega a pedir que, em nome da mansidão de Cristo, não o obriguem a ser ousado pessoalmente como era por cartas.

  1. Mansidão e firmeza (10.1-2)
    E eu mesmo, Paulo, vos rogo, pela mansidão e benignidade de Cristo, eu que, na verdade, quando presente entre vós, sou humilde; mas, quando ausente, ousado para convosco.

A mudança de tom que marcará a carta de Paulo a partir do décimo capítulo fica evidente. Pela ironia utilizada no versículo acima, sabemos que eles acusavam o apóstolo de fazer um ensino muito permissivo e de ser muito descuidado em relação ao cumprimento de preceitos. Tudo indica que eles emendaram outra acusação dizendo que Paulo era negligente – “humilde” – pessoalmente, mas por cartas pretendia ser duro e exigente. Agora entendemos melhor o versículo acima, nele o apóstolo mostra que já sabe das acusações e ironiza a malícia dos adversários. Os judaizantes não entendiam nem aceitavam completamente a nova aliança e defendiam a permanência de preceitos alimentares e da circuncisão. Paulo sobe o tom da repreensão, talvez por acreditar que no meio da igreja alguns precisassem de advertências mais claras. Embora manso e conciliador, Paulo se mostra firme quando necessário.

Para entendermos o levante contra Paulo, é preciso dizer que os judaizantes exigiam mais retórica e erudição nas pregações e mais austeridade e postura quanto aos preceitos. Segundo N.T. Wrigth, uma “cultura de celebridade” levava alguns a se considerarem mais capazes e mais qualificados do que Paulo. Por isso é que vemos o apóstolo rogando-lhes “que não tenha de ser ousado” com todos o quanto pretendia ser com aqueles que o difamavam.

 

  1. Armas espirituais (10.3-5)
    Porque as armas da nossa milícia não são carnais, e sim poderosas em Deus, para destruir fortalezas, anulando nós sofismas (10.4).

Paulo faz questão de dizer que ele e seus auxiliares não precisam provar seu valor segundo critérios humanos – tais como a retórica e a boa aparência – pois não andam “em disposições de mundano proceder” nem “militamos segundo a carne” (10.3). Ele declara que “as armas da nossa milícia não são carnais, e sim poderosas em Deus, para destruir fortalezas” (10.4), que bloqueiam a mente das pessoas para o verdadeiro Evangelho. Ele garante que suas armas espirituais, entregues por Jesus, são capazes de destruir “sofismas e toda altivez que se levante contra o conhecimento de Deus” (10.4-5). Na primeira carta ele já havia declarado sua cautela quanto à retórica da sabedoria humana (1Co 2.1-5). A tradição grega dos longos diálogos filosóficos e a vasta erudição rabínica não passavam de altivez intelectual empenhada em criar fortalezas contra a verdadeira mensagem: Deus fez-se homem e venceu a morte deixando-se crucificar.

Sofisma é um argumento ou estrutura de pensamento que tem como objetivo enganar o interlocutor, apresentando-se com aparente lógica e sentido, mas com fundamentos contraditórios

 

  1. Legitimada pela obediência da maioria (10.6)
    Estando prontos para punir toda desobediência, uma vez completa a vossa submissão.

A maioria dos irmãos em Corinto estava firme nos ensinamentos de Paulo. Os polemistas eram um pequeno grupo, mas inspiravam cuidados, pois ele não poderia correr o risco de perder a maioria que o havia legitimado como apóstolo verdadeiro. Paulo entendeu que nenhum saber humano excederia a revelação de que todo homem estava condenado à morte antes de o filho de Deus se submeter à morte de cruz. Diante dessa certeza, qualquer premissa diferente leva a conclusões falsas. Ele não se nega a refletir, mas se recusa a dizer verdades humanas. Por isso ele traz “cativo todo pensamento à obediência de Cristo” (10.5), e não se importa com belos discursos e longas indagações. Nada resistiria à autoridade que lhe foi dada por Deus e à obediência da maioria da congregação. Isso era uma prova evidente da sua autoridade legítima e do direito de corrigir os desobedientes, caso ainda os encontrasse.

 

II. AUTORIDADE E DISCIPLINA (10.7-14)

Num exercício habilidoso de retórica — que derruba a acusação de que ele era desqualificado — Paulo reivindica a autoridade ministerial não segundo os atributos sociais exigidos, mas segundo as dificuldades da tarefa que lhe foi atribuída por Jesus, entre elas a pregação do Evangelho em Corinto e o resultado comprovado pelos frutos obtidos.

  1. A verdadeira autoridade (10.7-8)
    Se eu me gloriar um pouco mais a respeito da nossa autoridade, a qual o Senhor nos conferiu para edificação e não para destruição vossa, não me envergonharei (10.8).

A Paulo foi dada autoridade para proclamar o Evangelho e, consequentemente, para destruir raciocínios falsos através de “demonstração do Espírito e de poder, para que a vossa fé não se apoiasse em sabedoria humana, e sim no poder de Deus” (1Co 2.4-5). Então, se seus acusadores ostentavam belos discursos, ele poderia gloriar-se de ter recebido poder do próprio Jesus. O problema é que alguns dos que vieram do judaísmo tinham uma visão equivocada do chamado apostólico, pois da mesma forma como haviam idealizado um Messias guerreiro, também sonhavam com apóstolos respeitáveis por suas elevadas capacidades físicas e intelectuais. Ora, se alguns se declaram de Cristo (1Co 1.12), também Paulo era de Cristo por evidências que os coríntios não percebiam (10.7). N. T. Wright sugere que os judeus de Corinto não percebiam a debilidade física de Paulo como prova de sua dependência de Deus e sua imitação de Jesus (1Co 2.3; 11.1; Gl 2.20). Começamos a entender que a sua fraqueza física e sua mansidão eram o grande argumento em favor da sua autoridade.

 

  1. Coerência entre o falar e o proceder (10.9-11)
    Para que não pareça ser meu intuito intimidar-vos por meio de cartas (10.9).

Se aqueles seus caluniadores pudessem observar o que é evidente (10.7), saberiam que sua autoridade não é exercida apenas por meio de cartas (10.9), mas pelas armas da justiça, ou seja, pela pregação da verdade. Essa cegueira própria deste século impedia os coríntios de alcançarem o discernimento do Espírito, pois se Deus buscasse os mais cultos e de maior prestígio os próprios coríntios não teriam sido salvos pelo Evangelho (1Co 1.26-29). O apóstolo garante que logo eles poderiam confirmar sua capacidade de repreendê-los, conforme anunciara em palavras, pois ele promete que em breve o faria tanto em presença quanto o fez em cartas (10.11). Para nós fica um alerta em relação ao esnobismo dos que ostentam sabedoria humana, mas têm pouca intimidade com Jesus e nenhuma autoridade espiritual.

 

  1. Sem buscar glória pessoal (10.12-14)
    Porque não ousamos classificar-nos ou comparar-nos com alguns que se louvam a si mesmos; mas eles, medindo-se consigo mesmos e comparando-se consigo mesmos, revelam insensatez (10.12).

Paulo diz que só insensatos elogiam a si mesmos (Gl 6.4) sem ter nada para apresentar. Ele, ao contrário, avaliava a si mesmo pela persistência em suportar as dores do ministério que Deus lhe deu. Noutras palavras, ele diz que seus adversários têm uma excelente avaliação de si mesmos porque comparam-se uns com os outros; ele, ao contrário, compara sua pequenez à dura tarefa de levar o Evangelho até a fronteira das cidades gentílicas, entre elas, Corinto. A declaração de que “não ultrapassamos os nossos limites como se não devêssemos chegar até vós” (10.14) serve para dizer que era fácil promover a si mesmos, difícil foi avançar com o Evangelho entre os gentios. Na sequência, ele arremata mostrando a diferença entre quem se vangloria e quem realmente trabalha para Jesus, pois ao comparar-se com seus acusadores, ele diz: nós “já chegamos até vós com o evangelho de Cristo” (10.14), sem que vocês tivessem feito qualquer coisa pelo reino.

 

III. AUTORIDADE COM HUMILDADE E ÉTICA (10.15-18)

Ainda que não costume vangloriar-se do seu apostolado, ele se permite fazê-lo para deixar claro que tem autoridade para destacar os trabalhos que de fato realizou.

  1. O crescimento da igreja (10.15)
    Não nos gloriando fora de medida nos trabalhos alheios e tendo esperança de que, crescendo a vossa fé, seremos sobremaneira engrandecidos entre vós, dentro da nossa esfera de ação.

Paulo os faz lembrar que ele foi quem enfrentou as dificuldades de anunciar o Evangelho naquela cidade quando ninguém conhecia a salvação. Embora os mesmos que o acusavam tivessem sido um obstáculo desde o início, o próprio Jesus havia ordenado que ele ficasse em Corinto (At 18.5-11). Desse modo, ao expor o crescimento daquela igreja, Paulo fala de seu próprio trabalho não se “gloriando nos trabalhos alheios” (10.15), como faziam eles. Alguns diziam que eram “de Cristo” (10.7), mais espirituais do que Paulo, tentando desqualificar o pastor para assentarem-se sobre as ovelhas. B.P. Bittencourt diz que esses homens procuravam minar os alicerces lançados por Paulo, como agitadores profissionais. Ainda assim, Paulo tem esperança de ter seu trabalho reconhecido nos limites da sua “esfera de ação” (10.15), conforme tudo o que realizou.

 

  1. A ética missionária (10.16)
    A fim de anunciar o evangelho para além das vossas fronteiras, sem com isto nos gloriarmos de coisas já realizadas em campo alheio.

Paulo segue firme na defesa do seu trabalho, na denúncia das verdadeiras intenções dos seus adversários. Mesmo em meio a problemas pastorais, o verso acima mostra que ele planeja continuar expandindo o campo missionário. Mas, como avançar em meio a problemas caseiros? Como resolver tais problemas se a igreja não entendesse que estava sendo enganada? Paulo precisava expor as diferenças entre ele e os caluniadores. Superadas essas contendas, outros campos de evangelização poderiam ser construídos, mas sem precisar destruir as “coisas já realizadas em campo alheio”, como tentavam fazer em Corinto.

 

  1. Glorie-se no Senhor (10.17-18)
    Aquele, porém, que se gloria, glorie-se no Senhor (10.17).

Ao advertir a igreja a respeito dos que gostam de elogiar a si mesmos, Paulo cita a palavra de Deus profetizada por Jeremias: “mas o que se gloriar, glorie-se nisto: em me conhecer e saber que eu sou o SENHOR e faço misericórdia, juízo e justiça na terra” (Jr 9.24), pois os que louvam a si mesmos não são aprovados (10.18). O propósito era mostrar que a igreja poderia encontrar a prova definitiva acerca de quem, entre ele e seus acusadores, realmente falava em nome de Deus. O que Paulo está dizendo, novamente, é que ninguém deve presumir-se poderoso ou superior em nada, sob pena de viver mergulhado em seu próprio engano. Jesus alertou os setenta em relação a isso (Lc 10.17-20), quando mostrou os perigos do autoelogio. Toda honra pertence a Deus, nada somos além de vasos de barro, servos de Jesus, servos da igreja e daqueles que precisam de salvação. “Porque não é aprovado quem a si mesmo se louva, e sim aquele a quem o Senhor louva” (10.18). Glória a Deus e aleluia!

 

APLICAÇÃO PESSOAL
Sejamos humildes servos da igreja, desinteressados de qualquer privilégio e empenhados na edificação dos irmãos.